Dados do dr.consulta mostram que o primeiro semestre de 2021 houve um aumento de 78% nas consultas de psicologia, e de 9% de psiquiatria

Atualmente, muito tem sido falado sobre como a pandemia afetou a saúde mental dos adultos, mas pouco se fala em como crianças e adolescentes foram afetadas. Eles perderam a interação com colegas no colégio e passaram a viver uma vida através de telas, cada vez mais isolados. Uma pesquisa realizada pela Fundação Lemann em parceria com o Instituto Natura mostrou que 94% das crianças e dos adolescentes tiveram alguma mudança de comportamento durante a pandemia. De acordo com o relatório, 44% se sentiram tristes e 38% ficaram com mais medo.

Um levantamento do banco de dados de pacientes cadastrados no dr.consulta mostra que entre janeiro e julho de 2021, houve um aumento de 78% nas consultas de psicologia da faixa etária dos 10 aos 19 anos, em comparação ao mesmo período em 2020. Já nas consultas em psiquiatria, o crescimento foi de 9%.

“Esses jovens sentiram um aumento muito grande na dor emocional, principalmente por terem vivido meses de ensino remoto e falta de convivência com os demais. Acabaram se isolando e entraram em estado de pânico e não souberam como lidar com os sentimentos. Nessa faixa etária, dificilmente eles contam aos pais o que o acontece. Daí entra a importância do profissional para tratar o estado mental, que está muito abalado”, conta a dra. Lisies Jacintho, psicóloga do dr.consulta.

Nos últimos meses, a psicóloga observou que de 10 consultas, cinco pacientes relataram que estão aflitos e se sentindo tristes. Para essa faixa etária, a consulta precisa ser sempre presencial para que eles possam desabafar, olhar nos olhos e até mesmo treinar esse retorno para a vida presencial. Ela costuma realizar terapia comportamental com análise de desenhos. Na segunda consulta, já é possível observar se há necessidade do encaminhamento para outras terapias.

O acompanhamento psicológico é uma ferramenta de autoconhecimento muito importante que ajuda a lidar com as questões do dia a dia e serve como complemento para diversos tratamentos, principalmente, os psiquiátricos. A dra. Lisies tem notado uma mudança de comportamento na busca pelas consultas por ser uma faixa etária ativa nas redes sociais. Assim, os jovens acabam pesquisando e vendo a importância de tratar a saúde mental. Muitas vezes, a atitude de procurar o profissional parte deles.

“Muitas vezes, eles aceitam mais que os pais essa busca pelo tratamento da saúde mental. Após a primeira consulta, já é possível notá-los aliviados. Eles têm a sensação de que estão sozinhos no mundo e é importante conversar com uma profissional que os compreende”, afirma a psicóloga.

Já para o dr. Danilo Carvalho Borges, psiquiatra do dr.consulta, a maioria das queixas é de filhos de pais separados que sentiram falta de um deles, pois com o isolamento, passou a visitar ou encontrar cada vez menos. “Um ciclo afetivo foi quebrado e a convivência mudou, fazendo com que esses jovens relatassem a falta que sentiam do pai ou da mãe. Com a pandemia, os encontros passaram a ser virtuais ou com um espaço de tempo maior, o que foi sentido por eles”, explica o especialista.