Otorrino e farmacêutica explicam como se dá a perda desse sentido e quais são as etapas do tratamento

A vacinação contra a Covid-19 tem animado autoridades da saúde e a população brasileira. O vírus trouxe muitas mudanças na vida das pessoas, principalmente daquelas que tiveram parosmia como sequela até mesmo por um longo tempo após contrair a doença. A parosmia é uma disfunção associada à detecção de cheiros em que o cérebro não consegue identificar o cheiro devidamente. Esse distúrbio era pouco frequente na medicina até a pandemia do novo coronavírus, e estudos internacionais apontam que até 47% das pessoas que perderam o olfato ao se infectar com Covid-19, podem desenvolver algum distúrbio relacionado a esse sentido.

O médico otorrinolaringologista, Márcio Nakanishi, explica que a perda de olfato acontece por causa da similaridade entre os nossos receptores de cheiro e os “espinhos” presentes no vírus. “No nosso sistema olfatório existem esses receptores chamados de ACE 2, e o Covid tem uma chave, as espículas, que se encaixam exatamente na fechadura do epitélio respiratório. Por isso o vírus entra tão facilmente na via respiratória”, explica o otorrino.

Nakanishi explica que não existe uma forma de evitar a parosmia, por isso a necessidade de ir em um médico especialista. “O ideal é procurar um otorrinolaringologista, pois ele vai avaliar a extensão da alteração do olfato e propor as medidas necessárias para correção do problema”, explica Leandra Sá de Lima, farmacêutica e consultora da Farmacotécnica.

O otorrinolaringologista aponta que uma das formas de avaliação mais utilizadas no Brasil é a Connecticut, validada pela USP de Ribeirão Preto. “Essa avaliação consiste em duas etapas: uma qualitativa e outra quantitativa”, acrescenta. A fase quantitativa avalia a capacidade do paciente em perceber o cheiro em concentrações diminutas de um produto padronizado. “O médico apresenta 7 frascos de diferentes diluições do produto contra um frasco contendo água. Então o paciente precisa relatar em quais frascos sente mais o cheiro”, exemplifica Leandra.

Já na segunda fase, a qualitativa, o paciente é apresentado a cheiros comuns para os brasileiros, como café, sabonete e paçoca. Ele precisa identificar corretamente o que é o cheiro que lhe é apresentado. “De acordo com o desempenho no teste, o médico diagnostica e propõe as ações de tratamento”, fala Leandra.

Tratamento

Segundo o otorrino Nakanishi, o tratamento é feito em duas partes: uma não farmacológica e outra farmacológica. “A primeira etapa consiste em um treinamento olfatório, onde usamos essências e estimulamos a recuperação do olfato”, explica.

As essências podem ser vendidas em kits e é preciso que se faça um treinamento com a constância recomendada pelo médico para que se tenha resultados. “O paciente fará o treinamento duas vezes ao dia aspirando as essências e anotando em um relatório”, exemplifica Leandra. Ela cita o ômega-3 e o ácido lipóico como essências que ajudam na recuperação do olfato, e cita as 4 essências presentes no kit da Farmacotécnica: rosas, eucalipto, cravo e limão.

A segunda fase do tratamento também é dividida, segundo o Dr. Nakanishi: uma para desinflamar a mucosa do nariz, e a outra para facilitar a regeneração do neuroepitélio olfatório. “Na segunda fase reduzimos a inflamação e depois ofertamos nutrientes e vitaminas que vão regenerar o neuroepitélio olfatório. Existem uma série de medicações que podemos usar”, acrescenta o médico.

Nakanishi alerta que, assim como qualquer outra doença, a automedicação é fortemente contra-indicada. “É importante que o paciente procure um médico para que ele dê as orientações corretas e faça um bom acompanhamento do quadro”.

A Universidade Federal da Bahia (UFBA) iniciou em março um estudo sobre a parosmia e um possível tratamento para o distúrbio. Metade das 128 pessoas que participam do estudo estão recebendo uma cápsula com ácido-alfa-lipóico, que ajuda a regenerar os receptores olfativos, e a outra metade recebe pílulas de placebo. O estudo termina em dezembro.