Dois estudos podem contribuir para a queda da incidência de câncer

“Estimativa 2020”, do Instituto Nacional de Câncer, enfatiza os trabalhos vencedores do Prêmio Péter Murányi referentes ao aleitamento materno

A pesquisa “Estimativa 2020”, do Instituto Nacional de Câncer (Inca), que indica que o Brasil poderá ter 525 mil novos casos da doença este ano, destacou a importância de dois trabalhos vencedores do Prêmio Péter Murányi referentes ao aleitamento materno. O primeiro, finalista do certame em 2018, refere-se à importância da amamentação para a saúde do bebê e das mães, inclusive reduzindo a incidência de câncer de mama. Já o outro, primeiro colocado na edição deste ano, trata sobre a produção de leite humano em pó e a ampliação do número de bebês alimentados com esse produto.

Vera Murányi Kiss, presidente da Fundação Péter Murányi, promotora do prêmio, lembra que o estudo finalista em 2018, indicado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e realizado a pedido da Organização Mundial da Saúde (OMS), foi o primeiro que mapeou os padrões globais do aleitamento materno e os relacionou à preservação da saúde de crianças e mães. O trabalho avaliou dados de 153 países e mostrou o significado do desenvolvimento de políticas públicas que incentivem o aleitamento materno.

De autoria do médico epidemiologista Cesar Victora, professor emérito da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a pesquisa concluiu que o leite materno, em nível quase universal, poderia prevenir 823 mil mortes anuais de crianças menores de 5 anos, assim como, no mesmo período, evitaria 20 mil falecimentos de mulheres por câncer de mama. “Os dados do estudo apontaram menor incidência de câncer de mama e de ovário entre as mulheres que amamentam”, ressalta Vera, acrescentando: “No que diz respeito às crianças, o leite humano aumenta a inteligência e reduz o risco de desenvolvimento de obesidade e diabetes na idade adulta”. A obesidade, segundo especialistas, é fator de risco para alguns tipos de cânceres, como de pâncreas, mama (pós-menopausa), esôfago, endometrial, colorretal e renal.

Assim, o aumento do número de bebês alimentados com leite materno também tem importância nesse aspecto. Nesse sentido, é relevante o trabalho vencedor do Prêmio Péter Murányi em 2020, em sua 19ª edição. Trata-se de estudo relativo à produção de leite humano em pó, realizado pelos pesquisadores Vanessa Javera e Jesuí Vergílio Visentainer, da Universidade Estadual de Maringá (UEM).

A tecnologia aplicada para conservar o leite humano à temperatura ambiente deve manter suas propriedades nutricionais e biológicas. Na conversão em pó, foram aplicados dois processos que atenderam a esses critérios: liofilização e secagem por spray drying ou atomização, método realizado a partir de um líquido ou suspensão por secagem rápida. Na comparação com o produto pasteurizado e congelado, disponível nos bancos de leite materno, mantiveram-se todas as propriedades nutricionais.

Na visão dos pesquisadores, a produção do produto em pó tem plenas condições de atender à demanda reprimida, aumentando o número de bebês de até 6 meses de idade alimentados com leite humano, e não fórmulas infantis. Até agora, os bancos de leite materno trabalham com o produto pasteurizado e congelado, cujo tempo de validade é curto e que exige infraestrutura complexa para armazenagem. Com estrutura adequada para estocagem, o produto em pó ampliaria muito a oferta, com a mesma qualidade, sabor e propriedades nutricionais e maior tempo de validade.

(BOX)  

Referência em P&D

A 19ª edição do Prêmio Péter Murányi contou com 124 trabalhos inscritos, indicados por instituições de pesquisa e universidades. O certame é anual, com rodízio dos temas “Educação”, “Saúde”, “Ciência & Tecnologia” e “Alimentação”, sendo este o foco abordado em 2020. O vencedor recebe R$ 200 mil; o segundo colocado, R$ 30 mil; e o terceiro, R$ 20 mil.

Ao longo de sua trajetória, o prêmio, que se consolida como referência no campo de pesquisa e desenvolvimento (P&D), teve 1.704 trabalhos participantes e distribuiu R$ 3,15 milhões a pesquisadores e cientistas. Seu propósito é beneficiar populações e comunidades de nações em desenvolvimento, reconhecendo trabalhos capazes de melhorar a qualidade de vida. Os vencedores são escolhidos por um júri composto por representantes de entidades nacionais e internacionais ligadas à alimentação, representantes de universidades federais, estaduais e privadas, personalidades de renome e membros da sociedade.

A premiação conta com o apoio das seguintes entidades: Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei), Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp), Academia Brasileira de Ciências (ABC), Associação dos Cônsules no Brasil (Aconbras) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).