A Sociedade Brasileira de Mastologia alerta para a queda de atendimentos em hospitais públicos do país das pacientes em tratamento para o câncer de mama. Segundo levantamento realizado em centros hospitalares que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nas principais capitais, a queda nos atendimentos de mulheres em tratamento, nos meses de março e abril está, em média, 75%, em comparação ao mesmo período do ano passado. O medo de se contaminar durante o deslocamento e ao dar entrada na unidade de saúde, além do remanejamento de atendimentos e cirurgias nos hospitais por conta dos casos de Covid-19 são os principais motivos dessa ausência.
Segundo o levantamento realizado, tanto na capital Porto Alegre quanto nas cidades do interior do Rio Grande do Sul, a queda dos atendimentos pela rede pública foi, em média, de 75% nos meses de março e abril. Já na rede privada esse percentual chega a 85% em comparação ao mesmo período do ano passado. Os principais exames em queda são a mamografia, ecografia mamária, ressonância magnética mamária e a biópsia de mama.
Em outros estados, a história se repete. O Instituto Maranhense de Oncologia Aldenora Belorá (Cacon), que concentra a maioria dos pacientes em tratamento do câncer de mama, realizou 442 atendimentos em abril de 2019, mas neste mesmo mês de 2020, apenas 55 pessoas foram atendidas, uma redução de mais de 87%. Em Santa Catarina, a redução foi de 75% em março e abril deste ano nos atendimentos ambulatoriais e cirúrgicos. Já em Minas Gerais, na Santa Casa de Belo Horizonte, a principal unidade de atendimento para câncer de mama, houve uma diminuição da demanda de 40% entre janeiro e abril comparado ao mesmo período do ano passado. As cirurgias sofreram queda de 28%.
No Ceará, a queda foi, em média, de 60% a 80% nos meses de março e abril. Para ter uma ideia, em março/2019 foram realizadas 5.720 mamografias de rastreamento pelo SUS no estado, já este ano caiu para 3.358 no mesmo período. A queda se repete também em Fortaleza. Foram 2.518 mamografias diagnósticas e de rastreamento realizadas em março/2019 e 492 em abril/2020.
A realização da mamografia de rastreamento é outro fator preocupante, já que o exame está suspenso em muitas regiões e as unidades básicas não estão fazendo encaminhamento para os hospitais. “Se levarmos em consideração que o isolamento social possa ter uma duração de quatro meses e, consequentemente, a interrupção deste serviço neste período, significará que teremos um atraso em diagnósticos com possível aumento do número de tumores em estágio avançado”, explica Dr. Vilmar Marques, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia.
A Sociedade Brasileira de Mastologia está preocupada com essa situação levando em consideração que a telemedicina, que é uma estratégia para a rede privada durante a pandemia, não está disponível no Sistema Único de Saúde. “A SBM entende que temos um país heterogêneo e não é possível definir uma conduta única na abordagem de pacientes com câncer de mama, pois tanto a incidência de COVID-19 quanto à estrutura hospitalar difere em cada região”, alerta Dr. Vilmar, concluindo que ações emergenciais são necessárias para o enfrentamento desses dois grandes problemas: o câncer de mama e a pandemia.