Preconceito e desinformação afetam saúde mental de pacientes com psoríase
Ansiedade e depressão estão entre os diagnósticos recebidos pelos pacientes, que enfrentam constrangimentos e isolamento social decorrentes de discriminação e falta de informação sobre a doença
O desconforto dos pacientes acometidos por distúrbios da pele, como a psoríase, doença inflamatória crônica que afeta 5 milhões de brasileiros, vai muito além dos sintomas provocados no corpo. Em muitos casos, a doença, que causa placas avermelhadas e descamativas na pele, também traz consequências à saúde mental dos pacientes, que, diante das lesões expostas, sofrem preconceito e humilhações, o que leva muitos desses indivíduos ao constrangimento e ao isolamento social.
Doenças de pele tendem a interferir no cotidiano dos pacientes, alterando também o seu estado psicoemocional. A presença de sofrimento psicológico é fator agravante para as doenças dermatológicas, podendo exacerbar as lesões e piorar o quadro clínico. Além disso, episódios depressivos podem comprometer o funcionamento diário e levar ao suicídio.
“A relação entre a psoríase e os sintomas depressivos pode agravar o quadro geral de saúde, tanto físico quanto emocional, o que torna indispensável o suporte psicológico aos pacientes psoriáticos, no sentido de promover melhora da saúde física e mental, mais qualidade de vida e auxílio no enfrentamento às limitações e aos desafios impostos pela doença”, destaca o dr. Wagner Galvão, dermatologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
PRECONCEITO NO BRASIL
Embora seja considerada uma enfermidade relativamente comum, a falta de informação faz com que haja preconceito com quem tem psoríase. Segundo a pesquisa CLEAR7, a maior já realizada no mundo para entender como vivem pacientes com psoríase moderada a grave, o Brasil é o segundo país onde os pacientes são mais humilhados e discriminados por conta da doença. Por aqui, 96% dos pacientes brasileiros relataram que já sofreram algum tipo de preconceito em função da doença, enquanto a média mundial é de 85%.
A discriminação pode ocorrer em diversos ambientes e setores da sociedade. Para se ter uma ideia do preconceito, segundo a pesquisa, 27% dos pacientes brasileiros afirmaram ter atendimento recusado em salões de beleza, cabeleireiros, barbearias e lojas – dado significativamente maior no Brasil quando comparado à média mundial, que é de 16%.
IMPACTO NA VIDA SEXUAL E NO TRABALHO
Os relacionamentos dos brasileiros com psoríase moderada a grave também são mais afetados, atingindo 56% dos pacientes (contra os 43% na média global). Destes, 23% tiveram um relacionamento terminado por conta da doença e 40% evitam sexo ou relações íntimas também em função dela.
No campo profissional, os brasileiros com psoríase moderada a grave têm medo de perder o emprego (28% versus 18% na média global) e são alvos de “brincadeiras” no ambiente de trabalho (33% versus 23%). Já o percentual de brasileiros diagnosticados com alguma condição psicológica resultante da psoríase também é consideravelmente maior aqui do que na média global: 64% no Brasil contra 38% no mundo. Ansiedade e depressão estão entre os diagnósticos recebidos por pessoas com psoríase.
TERAPIAS INOVADORAS PODEM SER COBERTAS POR PLANOS DE SAÚDE
A cada dois anos, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) aprova a incorporação de opções terapêuticas ao Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde. Essa lista contém todas as terapias que devem ser obrigatoriamente cobertas pelos planos de saúde. A próxima atualização do Rol acontecerá em 2021, porém, para que isso ocorra, existem algumas etapas que avaliam quais serão as novas tecnologias a serem oferecidas para os usuários da saúde suplementar. Entre as submissões deste ano, estão os medicamentos biológicos para o tratamento da psoríase, cujo objetivo atual é alcançar pele sem lesão ou quase sem lesão.
Dada a importância do tema no âmbito da saúde pública nacional, a ANS passou a transmitir on-line as Reuniões Técnicas de Análise das Propostas de Atualização do Rol, possibilitando, assim, a participação da sociedade na discussão de temas de interesse, antes da consulta pública. Qualquer pessoa pode acompanhar a reunião e enviar mensagens durante a transmissão.
“O esforço para ampliar e oferecer um acesso universal ao tratamento da psoríase aos pacientes é de extrema importância para a saúde e a qualidade de vida dessas pessoas, e alcançar esse objetivo promoverá, consequentemente, uma melhor inserção social, assegurando mais respeito e dignidade a esses indivíduos”, conclui Galvão.
Em 3 de março, a Câmara de Saúde Suplementar (CAMSS), que é composta por especialistas da ANS e/ou por representantes de todos os envolvidos no setor, a convite da ANS, discutirá, entre outros temas, a incorporação de medicamentos biológicos para o tratamento da psoríase no Rol da ANS, em 2021. Para assistir e participar, acesse o link: http://www.youtube.com/channel/UC5ZdZ9npVaXnTEotafyiP_A.