Desemprego, perda de alguém ou diagnóstico de alguma doença grave são alguns dos problemas enfrentados
Nunca se sofreu tanto com a saúde mental em nosso país. Há três anos, o Brasil tem a população mais ansiosa do mundo e é um dos líderes em casos de depressão. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma pesquisa global liderada pela Universidade Estadual de Ohio (EUA) apontou um aumento de 25% em casos envolvendo esses dois problemas.
Para a psiquiatra Maria Francisca Mauro, o inicio da depressão pode acontecer de diferentes formas e por isso é preciso ficar atento aos sintomas.
“Os primeiros sinais podem se manifestar em diferentes aspectos da vida. O importante é observar se, mesmo passando por um momento de maior pressão, você não consiga voltar ao seu estágio de normalidade dentro de 15 dias. A forma como se sente; os pensamentos que tem; sua relação com a vida em termos de prazer; ou mesmo alterações do sono e do próprio corpo, como o peso, podem ser sinais de que algo não está bem. O negativismo pode chegar a uma dimensão de achar que a vida não vale mais à pena, como se não houvesse mais alternativas e isto culminar para além de pensamentos vagos sobre a morte, podendo se tornar uma ideia fixa, até o extremo de uma tentativa de suicídio”, pontua a psiquiatra.
No Setembro Amarelo, mês da campanha de combate ao suicídio, vale estar atento aos sinais que o seu corpo apresenta. De acordo com a última pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019, foram registrados mais de 700 mil suicídios em todo o mundo, sem contar com os episódios subnotificados. Com isso, estima-se mais de um milhão de casos. No Brasil, os registros se aproximam de 14 mil por ano, ou seja, em média 38 pessoas cometem suicídio por dia.
Dados da revista acadêmica Suicide and Life-Threatening Behavior, publicados em junho deste ano, mostram que, aproximadamente, 80% dessas pessoas apresentaram um evento adverso na vida ao longo dos 12 meses, como desemprego, perda de alguém ou diagnóstico de alguma doença grave. 60% delas tinha algum quadro psiquiátrico, sendo 36.7% de depressão.
A pergunta que fica é: como você está cuidando da sua saúde mental? A seguir, a psiquiatra Maria Francisca Mauro esclarece as cinco principais dúvidas sobre essa doença com maior prevalência no Brasil. Confira:
Qual é a diferença entre depressão e tristeza?
Importante diferenciar que a tristeza vem quando apresentamos algum evento em nossa vida em que há um fator que nos deixou mais triste, como a perda de um familiar, um rompimento amoroso, algum problema no trabalho. Detectamos uma causa externa com emoção negativa. Na depressão este sentimento ruim vem de forma independente, sem algum acontecimento externo que marque aquele início.
Quais os fatores de risco para o transtorno?
Os fatores de risco para depressão são: genética; o ambiente em que a pessoa vive, que pode sobrecarregá-la emocionalmente; eventos adversos na infância, como perda ou separação dos pais, doenças na família, abuso sexual, por exemplo. Os momentos estressores, de maior pressão, podem fazer com que você tenha dificuldade de processar aquele acontecimento. Sem saber lidar com ele da melhor maneira.
Como identificar que um amigo, ou uma pessoa querida, sofre de depressão?
Pessoas que passam a se isolar, sempre estão reclamando, cancelam compromissos em cima da hora, sempre estão arrumando desculpas sociais e param de responder mensagem ou de ter contatos externos, além de modificar seus comportamentos. Quem mora na mesma casa pode perceber que aquela pessoa está com dificuldade de seguir prazos, por exemplo. Um ponto importante são as mudanças abruptas de comportamento, um negativismo, pessimismo, certo isolamento, uma reclamação quanto às dificuldades para fazer coisas que antes fazia e se sentia bem. São sutilezas de mudanças que precisam ser reparadas quando estamos perante pessoas que amamos.
O que fazer nesses casos?
Quando identificamos que alguém próximo a nós está adoecido, é interessante uma conversa, sinalizar que você está à disposição para ajudá-la, fazer perguntas mais abertas sobre ela estar enfrentando algum problema. É importante demonstrar que você notou uma mudança de comportamento e tentar encaminhar a conversa sem deixar transparecer que está cobrando algo. O principal ponto é o acolhimento e sinalizar que ela pode se beneficiar de tratamento.
Qual é o melhor tratamento?
É importante, quando vamos avaliar o paciente com depressão, identificar qual é a duração daqueles sintomas, realizar um diagnóstico diferenciado de outros casos clínicos, já que mudanças hormonais podem estar ocorrendo de acordo com a fase da vida daquela pessoa. Elas podem colaborar com a depressão, por isso é importante fazer um rastreamento do momento pelo qual ela está passando. O melhor tratamento vai depender da gravidade, da intensidade dos sintomas, para identificar se a depressão é leve, moderada ou grave.
Em casos de sintomas leves, pode-se tentar a terapia para auxiliar a conduzir aquele quadro, além de exercícios físicos.
Em uma fase de depressão moderada a grave, vamos ter um panorama de que a intensidade dos sintomas e prejuízos para as atividades de vida e relacionamentos dão indicativos de que seja necessário intervir com medicamentos. Além da psicoterapia, também é importante investir em atividade física e mudanças de hábitos.
Em casos graves, com sintomas psicóticos ou quando a pessoa sequer faz as tarefas rotineiras, como tomar banho e comer, pode ser necessário intervenções mais severas, como internação para manejo de sintomas com risco.
O tratamento da depressão pode ser feito em qualquer fase e em qualquer gravidade, o mais importante é encurtar o tempo em que aquela pessoa ficará sofrendo sem acesso ao cuidado de saúde mental.