Bia Gadia*

A Síndrome do Edifício Enfermo (SEE) foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) na década de 1980, quando houve uma contaminação coletiva de pneumonia em um hotel na Filadélfia, com a morte de 29 pessoas. No Brasil, o caso marcante foi o falecimento do então ministro das Comunicações, Sérgio Motta, no fim da década de 1990, em função do agravamento do seu quadro clínico que, segundo muitos, foi devido à presença de fungos no ar.

Você já ficou algum tempo dentro de um ambiente e começou a se sentir mal? Teve sintomas como tosse; dor de cabeça; irritação nos olhos, no nariz e na garganta; dificuldade para respirar; coceira; fadiga mental; náusea; tontura; sonolência? Então, é possível que você estivesse em um edifício doente. A SEE não provoca doenças, mas pode colaborar para agravar males em pessoas pré-dispostas ou, até mesmo, provocar um estado passageiro. Ou seja, os usuários adoecem sem razão aparente e os sintomas agravam-se com o aumento da permanência neste edifício. Quando estas pessoas saem das edificações consideradas com SEE, os sintomas desaparecem.

Segundo a OMS, pelo menos 30% das edificações em todo o mundo sofrem de SEE. No Brasil, este número pode chegar a 50%. São dados alarmantes e preocupantes quando pensamos em ambientes de saúde, visto que as organizações, ao introduzirem inovações, tecnologias, raramente se preocupam em avaliar os aspectos humanos relacionados e afetados por tal processo, tampouco levam em consideração a edificação e o usuário em sua dimensão integral, o que inclui, obrigatoriamente, preocupação com a qualidade de vida, a saúde e o bem-estar. Talvez, a pergunta mais importante neste momento seja: como combater isso? Tendo em vista que muito está em risco.

Portanto, a melhor forma de se combater ou evitar a SEE é por meio de uma boa arquitetura, um bom projeto. A síndrome pode ter origem em erros de projeto ou de execução da obra, assim como no uso de materiais inadequados ou de baixa qualidade. Além disso, durante o ciclo de vida desses ambientes, é possível que as causas mudem. Nos primeiros meses, logo após a ocupação do prédio, a enfermidade pode ser gerada pelos materiais de construção particulados acumulados no ar e por poluentes liberados pelo mobiliário, produtos de limpeza, e, com o passar do tempo, o envelhecimento, a manutenção incorreta e o uso de filtros inadequados no sistema de climatização podem causar a doença.

Ambientes com ventilação natural são muito importantes para manter a salubridade. A renovação do ar interno permite que as partículas tóxicas presentes nos recintos se dispersem e não afetem nossa saúde. Ambientes sem ventilação e iluminação naturais causam danos à saúde dos usuários, resultando na alta tardia dos pacientes e em trabalhadores sendo afastados dos seus trabalhos, afetando o ritmo e a falta de produtividade da equipe.

O que fazer para combater bactérias, fungos, ácaros, micro-organismos em ambientes fechados, nos quais a ventilação ocorre somente por meio de sistemas de climatização e, para agravar a situação, recebem pouca ou nenhuma luz solar? É necessário manter o ambiente limpo, ter controle sobre a quantidade de VOC (compostos orgânicos voláteis) dentro dos ambientes e sobre a quantidade e a qualidade dos produtos de limpeza, todos eles responsáveis por alergias e irritações nas vias respiratórias, assim como conceber um bom sistema de ar-condicionado e manutenção com qualidade. Os cuidados com a edificação fazem muita diferença; então, estar atento a isso é tarefa da equipe técnica, mas também pode ser motivada por um olhar cuidadoso e proativo dos usuários em geral.

Além dos danos à saúde dos usuários, essa enfermidade gera muitos prejuízos financeiros às empresas. Apresentados os problemas e as causas relacionados à SEE nos ambientes de saúde, se profundas mudanças não ocorrerem, de respeito pelos valores sociais e responsabilidade social e humano, colocando em evidência a questão da qualidade de vida dos usuários, com políticas e práticas que gerem vida, saúde e bem-estar por meio do ambiente construído, mais usuários sofrerão de SEE, e as empresas sentirão suas consequências.

***Bia Gadia é arquiteta, fundadora e CEO da Bia Gadia Arquitetura e Design. Diretora de Integração Nacional da ABDEH e arquiteta PRO Healthy Building Certificate.