Dificuldade para engolir, rouquidão, uma íngua na região do pescoço e afta na boca. Quem nunca teve estes sintomas e atribuiu o incômodo a uma amigdalite? Mas estes sinais, facilmente confundidos com os de uma gripe,
podem ser indícios de um problema muito mais grave – o câncer de cabeça e pescoço, um conjunto de doenças que engloba tumores na boca, na laringe, na faringe e nas glândulas salivares, cuja prevenção é celebrada no Julho Verde.
Segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA), mais de 23 mil diagnósticos anuais de cânceres de cabeça e do pescoço devem ser feitos no Brasil no período 2020-2022. Os casos têm sido mais frequentes por conta de uma mistura explosiva: o tabagismo e o consumo exagerado de bebidas alcóolicas, além da infecção crônica pelo vírus HPV (papilomavírus humano). Esse último, embora muito associado ao câncer de colo de útero, é também responsável por tumores na orofaringe (terço médio da faringe).
A maior parte dos casos de câncer de cabeça e pescoço está relacionada ao tabagismo, que aumenta em cerca de 7 a 10 vezes a chance de desenvolvimento da doença. Para quem fuma e bebe, principalmente destilados, esse risco é 35 vezes maior do que para a população não tabagista – diz o oncologista Pedro de Marchi, do Hospital Marcos Moraes e do Grupo Oncoclínicas, baseado em estudos recentes (1)
Segundo o médico, os casos de câncer relacionados à infecção crônica pelo HPV têm aumentado nos últimos anos e acometem principalmente pacientes mais jovens e uma proporção maior de mulheres, como demonstram pesquisas internacionais (2).
Esses tumores, apesar de serem agressivos, têm melhor prognóstico que aqueles relacionados ao tabagismo. A vacina contra o HPV já se mostrou eficaz em reduzir a prevalência da infecção crônica por HPV na boca e orofaringe e há expectativa de que a longo prazo ela seja capaz de diminuir a incidência e a mortalidade da doença, principalmente quando utilizada antes do início da vida sexual — diz o médico.
De acordo com o especialista, o HPV tem levado pacientes em uma faixa etária mais baixa a desenvolver câncer da orofaringe. Como ele é sexualmente transmissível, reduzir o número de parceiros é a melhor maneira de diminuir o risco de infecção, já que o uso de preservativo não protege totalmente contra o HPV durante o sexo. (2)
Já os tumores relacionados ao tabagismo acometem mais homens do que mulheres, em uma proporção de 3 para cada 1, pacientes mais velhos (acima de 60 anos) e que frequentemente apresentam comorbidades relacionadas ao hábito de fumar. DE ONDE Isso pode limitar o tratamento da doença, que é complexo e deve ter uma abordagem multidisciplinar. Além do oncologista clínico, do cirurgião e do rádio oncologista, são necessários outros especialistas, como cirurgião plástico, radiologista e o médico nuclear. Também devem fazer parte da equipe enfermeiros, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, nutricionista, entre outros.
— Em tumores avançados não é incomum o paciente necessitar de um tratamento que envolve cirurgia, radioterapia e tratamento sistêmico (quimioterapia, imunoterapia e/ou terapia-alvo. Muitas vezes acontecem efeitos colaterais severos que eventualmente deixam sequelas importantes. Por isso, é fundamental conscientizar a população em relação a importância de não fumar e também os sinais e sintomas de alerta relacionados à doença. Quanto antes um médico for procurado, maior é a chance de a doença ser diagnosticada em um estágio precoce — diz De Marchi.