Para enfrentar doença, médicos defendem ações de promoção de hábitos saudáveis, melhora da prevenção e qualificação da assistência.

Preocupada com os indicadores de câncer colorretal (CCR) no País, a Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (SOBED), unida em força-tarefa com outras entidades médicas, faz um alerta nacional para a importância do diagnóstico e do tratamento precoces para esta doença. Considerado o segundo tipo de neoplasia que mais mata no Brasil, o CCR tende a apresentar uma elevação de suas taxas de morbidade e mortalidade nos próximos anos. Fatores como o aumento da expectativa de vida, envelhecimento da população e até mesmo a pandemia podem impactam nesse sentido. Os reflexos devem surgir até o ano de 2025. Assim, o mês de março foi escolhido pelas entidades para ser dedicado à conscientização sobre o CCR.

No Brasil, estima-se o surgimento de 20.540 casos novos de CCR em homens e de outros 20.470 em mulheres. Esses valores correspondem a um risco estimado de 19,64 casos novos a cada 100 mil homens e 19,03 para cada 100 mil mulheres. O Instituto Nacional do Câncer (Inca), com base em informações de 2020, calcula que o CCR é o segundo tipo de neoplasia mais frequente na população masculina e feminina, excluindo-se os casos de tumores de pele.

Projeto de lei – Para incluir a data no calendário oficial das comemorações relacionadas à saúde no País, a SOBED pediu ao Congresso Nacional e ao Governo Federal que estabeleçam março como o mês de conscientização sobre a importância da prevenção do câncer colorretal, vinculando a ele a cor azul. Atualmente, a Sociedade apoia a aprovação do Projeto de Lei nº 5024/2019, já chancelado pela Câmara dos Deputados, e que agora aguarda parecer do Senado.

Independentemente dessa resposta, a SOBED decidiu inaugurar nesse ano o Março Azul, inspirada em ações semelhantes realizadas em outros países. “Aumentar as chances de cura e de sobrevida são fundamentais. Por isso, é necessário detectar os sinais da doença o mais cedo possível, já tomando as providências para alcançar sua cura e reduzir danos”, ressalta o presidente da Sociedade, Ricardo Anuar Dib.

Medidas – Contudo, ele lembra que há necessidade de tomada de medidas urgentes por parte dos brasileiros, médicos e autoridades sanitárias. Esse entendimento é compartilhado pela SOBED e por várias outras entidades médicas que compartilham a mesma preocupação. Juntas, elas criaram uma força-tarefa para acompanhar o tema e fizeram recomendações de ações para serem implementadas – nos setores público e privado – com o objetivo de contribuir com a proteção e a defesa do bem-estar, da saúde e da vida da população.

As sugestões constam de um Manifesto assinado pela SOBED, a Associação Médica Brasileira (AMB), o Conselho Federal de Medicina (CFM) e outras nove sociedades de especialidades médicas: Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva (CBCD), Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC), Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG), Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP), Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e Sociedade Brasileira de Urologia (SBU).

O texto que será divulgado para pacientes, familiares, profissionais da saúde, tomadores de decisões e gestores da área da saúde, reitera a atenção que deve ser dispensada aos diferentes aspectos da assistência relacionadas ao câncer colorretal. As preocupações vão do estímulo à promoção de hábitos saudáveis à garantia de uma rede de cuidados capaz de acolher o doente de forma integral.

ACESSE AQUI A ÍNTEGRA DO MANIFESTO.

Campanhas – Como formas de prevenir o surgimento de novos casos, a SOBED ressalta a pertinência de campanhas que orientem os brasileiros sobre o combate ao tabagismo, alcoolismo, sedentarismo, consume excessivo de carnes vermelhas e dieta pobre em fibras, entre outros. Todos esses fatores são considerados de risco para o câncer colorretal, sendo que sua eliminação do cotidiano dos indivíduos constitui medidas de primeiro nível para a proteção.

Além desses aspectos, em seu Manifesto as entidades médicas signatárias pedem a implementação de programas que facilitem o diagnóstico precoce do câncer colorretal (CCR) por meio de exames específicos, como a pesquisa de sangue oculto nas fezes e a colonoscopia, bem como a eventual retirada por endoscopia de lesões pré-malignas.

Rede de atenção – Para tanto, orientam a adoção de medidas que visem o fortalecimento da rede de atenção aos pacientes com doenças crônicas, permitindo àqueles com diagnóstico de CCR o acesso a leitos, equipamentos, exames, medicamentos, insumos e profissionais qualificados para atendê-los em suas necessidades. Finalmente, os médicos especialistas sugerem a realização de uma ampla campanha sobre o CCR com foco na prevenção, na divulgação dos direitos assistenciais dos pacientes e no adequado encaminhamento dos pacientes, em especial nos serviços da rede pública.

“Nosso posicionamento faz parte de um projeto amplo, que tem como preocupação máxima a proteção dos brasileiros contra uma doença que pode ser evitada a partir de investimentos em medidas preventivas. O custo dessas ações é muito inferior ao gasto necessário para atender casos diagnosticados, bem como assumir despesas com aposentadorias e pensões. Para o Governo, os ganhos são de ordem econômica. Para as pessoas, eles são sinônimo de mais saúde e vida”, acrescentou Marcelo Averbach (SP), presidente da Comissão de Ações Sociais da SOBED e coordenador do movimento Março Azul.

A doença – O câncer colorretal evolui a partir de pequenas lesões “benignas”, que crescem lentamente e resultam em um tipo de neoplasia com elevada mortalidade, se descoberto na fase tardia. Contudo, alerta a SOBED, se a lesão for diagnosticada e tratada na fase inicial, há elevada probabilidade de recuperação.

Os sintomas dessa doença dependem da localização das lesões. Eles podem variar e incluir quadros de fraqueza, anemia, alterações do ritmo intestinal, com predominância de constipação. Qualquer mudança deve ser devidamente investigada. A doença pode evoluir sem sintomas na fase inicial, por isso, a prevenção e o diagnóstico precoce são fundamentais.

O CCR é considerado uma doença do “estilo de vida”. Estudos apontam que uma dieta rica em fibras, composta de alimentos como frutas, verduras, legumes, cereais integrais, grãos e sementes, além da prática de atividade física regular, previnem o câncer colorretal. As recomendações incluem ainda evitar o consumo de bebidas alcoólicas, de carnes processadas e de quantidades acima de 300 gramas de carne vermelha cozida por semana.

Além dos hábitos de vida, alguns outros fatores aumentam o risco de desenvolvimento do câncer colorretal. Eles incluem casos de câncer colorretal na família, predisposição genética ao desenvolvimento de doenças crônicas do intestino, história pessoal de outros tipos de câncer, obesidade, e idade, pois tanto na incidência quanto na mortalidade, observa-se aumento nas taxas a partir dos 50 anos. Completam essa lista doenças inflamatórias intestinais e transtornos hereditários, como polipose adenomatosa familiar (FAP) e o câncer colorretal hereditário sem polipose (HNPCC).

“Cabe ressaltar que as ações de conscientização devem também englobar os profissionais da saúde. Os médicos devem estar em alerta para os sinais e sintomas e capacitados para avaliação dos casos suspeitos. Da mesma forma, os serviços de saúde precisam estar preparados para garantir a confirmação diagnóstica oportuna, com qualidade, garantia da integralidade e continuidade da assistência”, arrematou o presidente da SOBED.