• No Brasil, disparidades regionais, envelhecimento populacional, impactos da pandemia, sinistralidade e mudanças regulatórias são alguns dos principais desafios do setor;
  • De acordo com o estudo, a Inteligência Artificial (IA) deve desempenhar um papel fundamental na otimização da administração, diagnóstico, tratamento e cuidado dos pacientes;
  • Os custos no setor de saúde são impulsionados por riscos trabalhistas, inflação e a necessidade de cuidados especializados para populações envelhecidas; força de trabalho preocupa, já que, de acordo com a OMS, haverá um déficit de 10 milhões de profissionais de saúde até 2030;
  • Hospitais estão investindo em descarbonização, estabelecendo metas de neutralidade de carbono e incentivando cadeias de valor sustentáveis.

setor global de saúde continuará a enfrentar desafios sem precedentes em 2024, como vem ocorrendo desde o início da pandemia da Covid-19, revela a nova edição do estudo “Perspectivas Globais do Setor de Saúde 2024”, realizado pela Deloitte, organização com o portfólio de serviços profissionais mais diversificado do mundo. De acordo com o relatório, que apresenta cinco grandes tendências do setor, o futuro da saúde global será moldado pela inovação, gerenciamento de custos, adaptação da força de trabalhointegração de cuidados sociais e sustentabilidade.

Uma das tendências que devem vir com mais força para o setor em 2024, é a Inteligência Artificial (IA), que deve desempenhar um papel fundamental na otimização da administração, diagnóstico, tratamento e cuidado dos pacientes. Desde a análise preditiva até a automação de registros eletrônicos de saúde, a IA pode aprimorar ainda mais a precisão e eficiência da entrega de cuidados de saúde.

Em 2024, o setor de saúde enfrentará transformações sem precedentes. A pandemia da Covid-19 segue impactando as organizações de saúde no Brasil e no mundo todo, pois deixou uma escassez de mão de obra e custos crescentes. Por outro lado, a adoção generalizada da inteligência artificial promete soluções inovadoras. Contudo, as desigualdades em saúde persistem, podendo triplicar os custos até 2040. A sustentabilidade é agora vital, com práticas ambientais e inovações na telemedicina moldando um futuro mais eficiente e acessível. Estamos no limiar de uma mudança profunda, em que inovação, sustentabilidade e adaptação da força de trabalho se tornam pilares essenciais do cuidado global”, destaca Luis Joaquim, sócio-líder de Life Sciences & Health Care da Deloitte.

Além das cinco áreas apontadas no relatório global, Luís Joaquim destaca outros temas, tendências e desafios que impactarão o mercado brasileiro nos próximos meses.

No Brasil, disparidades, envelhecimento populacional, impactos da pandemia e sinistralidade são alguns dos principais desafios do setor

O ano de 2023 foi marcado por desafios na saúde brasileira, com a persistência dos impactos da pandemia da Covid-19 e o surgimento de novas questões de saúde. O sistema de saúde no Brasil divide-se entre público e privado, com 25% da população (cerca de 50,9 milhões de pessoas) utilizando serviços privados regulamentados, enquanto o restante depende de serviços não regulamentados ou do Sistema Único de Saúde (SUS). O país gasta aproximadamente 9,3% de seu PIB (Produto Interno Bruto) em saúde, totalizando cerca de R$ 800 bilhões, distribuídos entre saúde pública e privada.

Disparidades regionais e desigualdades. O Brasil apresenta grandes disparidades regionais na oferta de serviços de saúde, evidenciadas pela variação no número de médicos por mil habitantes, chegando a diferenças de até cinco vezes entre regiões. Essas desigualdades refletem na expectativa de vida, com variações significativas entre cidades e bairros, destacando a desigualdade social existente no acesso à saúde.

Envelhecimento populacional e obesidade. O Brasil enfrenta um rápido envelhecimento populacional, prevendo-se uma das maiores taxas do mundo, o que representa um desafio adicional para o sistema de saúde. A taxa de obesidade, tanto em crianças quanto em adultos, é outra preocupação crescente, projetando-se que 41% dos adultos brasileiros serão considerados obesos até 2035.

Impactos da pandemia e aumento de beneficiários da Saúde Suplementar. A pandemia levou, inicialmente, a uma redução temporária no uso de serviços de saúde devido ao distanciamento social, mas posteriormente houve um aumento significativo, resultando no ingresso de 4 milhões de brasileiros no sistema de saúde suplementar nos últimos três anos. O aumento de casos de autismo, somado a fraudes e abusos, contribuiu para um aumento nos gastos com saúde, pressionando financeiramente hospitais e planos de saúde.

Sinistralidade e desafios financeiros. A sinistralidade, indicador importante do sistema de saúde, permanece elevada, atingindo até 90% em alguns momentos. A questão da sustentabilidade financeira no setor de saúde é agravada pelos altos custos operacionais, especialmente para hospitais, que enfrentam desafios mesmo com o aumento da demanda.

Saúde no mundo: os principais desafios globais do setor de saúde, de acordo com relatório da Deloitte

Transformando a saúde com Inteligência Artificial. A inteligência artificial (IA) surge como uma necessidade competitiva no setor, com um investimento global de US$31,5 bilhões entre 2019 e 2022. A IA está simplificando tarefas administrativas, automatizando a gestão de reclamações, melhorando a qualidade do cuidado, otimizando equipes hospitalares e proporcionando diagnósticos eficientes e precisos. No entanto, a confiança dos pacientes e a mitigação de vieses são cruciais para a adoção bem-sucedida dessa tecnologia inovadora. No Brasil, de acordo com Luis Joaquim, a IA tornou-se crucial para melhorar a eficiência e controle no sistema de saúde, abrangendo áreas como detecção de fraudes e modernização de processos operacionais. A aplicação da IA na radiologia, especialmente para diagnósticos por imagem, tem sido uma tendência, embora a falta de investimentos em infraestrutura digital, gestão de dados, padronização e qualidade nos dados de saúde ainda seja um obstáculo.

Gerenciando custos, cadeia de suprimentos e acessibilidade. Os custos no setor de saúde são impulsionados por riscos trabalhistas, inflação e a necessidade de cuidados especializados para populações envelhecidas. Os custos hospitalares nos Estados Unidos, por exemplo, aumentaram 22,5% desde antes da pandemia, e a inflação na América Latina contribuiu para um aumento de 18,9% nos custos com saúde em 2023. O setor está respondendo com inovações para reduzir custos relacionados à idade, mas a acessibilidade e o investimento em saúde são desafios, especialmente nos países em desenvolvimento. Os custos de saúde no Brasil estão em ascensão, com a inflação médica superando a média mundial. Mudanças legislativas, como o Projeto de Lei do piso de Enfermagem e a transformação do rol taxativo em exemplificativo, aumentam as incertezas e pressionam ainda mais os custos do setor. A área da saúde lida com um grande desafio em manter o equilíbrio entre os custos dos insumos hospitalares e a qualidade assistencial, ou seja, o setor de Suprimentos precisa posicionar-se como estratégico e acompanhar as linhas de oportunidades no mercado. Outro ponto sensível, que precisa de um gerenciamentosão os processos que possam gerar desperdícios quando não monitorados.

Respondendo à iminente escassez global de profissionais de saúde. A Organização Mundial da Saúde (OMS) projeta um déficit de 10 milhões de profissionais de saúde até 2030, agravado pelo esgotamento dos profissionais, que atinge quase 50% dos médicos nos Estados Unidos. Líderes de saúde são instados a reconstruir a confiança, restaurar significado e envolver os clínicos da linha de frente em papéis de liderança, além de priorizar tecnologias para reduzir as demandas de trabalho. Para Joaquim, no Brasil, questões como burnout, afastamento de profissionais de saúde e desigualdade na distribuição de profissionais são desafios significativos. As questões mentais dos profissionais de saúde têm se agravado, influenciadas pela instabilidade econômica, desemprego e perdas pessoais.

O papel dos cuidados sociais. Com 80% dos resultados de saúde vinculados a fatores sociais, governos e organizações estão integrando serviços de saúde e cuidados sociais para alcançar uma “saúde integral”. Parcerias estão sendo formadas para empoderar os trabalhadores de cuidados sociais e melhorar os resultados entre populações desatendidas, incluindo a implementação de tecnologias digitais para otimizar serviços. Na realidade brasileira, fatores sociais como localização geográfica, cor e raça, desempenham um papel crucial nos determinantes da saúde. A desigualdade no acesso a alimentos saudáveis também é destacada como um fator importante.

Um futuro sustentável. O setor de saúde, suscetível aos impactos das mudanças climáticas, está construindo operações mais sustentáveis para mitigar emissões. Hospitais estão investindo em descarbonização, estabelecendo metas de neutralidade de carbono e incentivando cadeias de valor sustentáveis. Joaquim destaca que no Brasilsetor de saúde é apontado como um dos principais poluidores, e a sustentabilidade torna-se uma preocupação crescente. A busca por operações mais verdes, eficiência energética e a resiliência da cadeia de suprimentos são consideradas essenciais para abordar os desafios ambientais e garantir a sustentabilidade do setor.

O estudo destaca a necessidade urgente de inovação, colaboração e responsabilidade no setor de saúde. À medida que enfrentamos transformações significativas, a adoção responsável de tecnologias, a abordagem proativa dos custos e da escassez de profissionais, o fortalecimento dos cuidados sociais e o compromisso com a sustentabilidade emergem como imperativos para moldar um futuro saudável para todos”, conclui Luis Joaquim.