Substância é apontada como agente antiviral promissor contra o coronavírus
Com mais de 131 milhões de casos positivos em todo o mundo¹, um ano após o início da pandemia do coronavírus, muito ainda se discute sobre diretrizes essenciais, tratamentos efetivos e novas terapias que possam minimizar o contágio pela infecção do SARS CoV-2, agente causador da Covid-19.
Estudos publicados pela Science, prestigiada revista cientifica, indicam que o nariz é a principal porta de entrada do novo coronavírus no organismo²-4. Por isso, tornou-se essencial entender como terapias intranasais poderiam evitar a transmissão do vírus e inibir a infecção do SARS-CoV-2.
“O novo coronavírus (SARS CoV-2), agente causador da síndrome respiratória aguda grave na Covid-19, pode ser transmitido principalmente por gotículas respiratórias e contato próximo. Cientistas constataram que os receptores ACE2, NRP1 e a proteína TMPRSS2 são encontradas em grande quantidade nas vias aéreas e menos em brônquios e pulmões. Presentes na superfície celular, receptor e proteína são responsáveis por permitir a entrada e a multiplicação do vírus no organismo. Quando as vias superiores são um dos principais canais para a entrada de infecções pulmonares, acende um alerta de que terapias intranasais possam ser uma munição promissora na guerra travada contra o coronavírus”6, relata Denise Katz, médica pediatra e gerente médica da Hypera Pharma (CRM-SP 63548).
Nesse contexto, uma revisão publicada pelo Journal of Allergy and Infectious Diseases6 avaliou pesquisas recentes e sugere que agentes com propriedades antivirais administrados pela via intranasal, podem ser mais uma opção para diminuir a atividade do vírus no trato respiratório e, assim, auxiliar na redução da transmissão e evolução da doença. 6
De acordo com a publicação, um estudo in vitro, conduzido por Bansal et al.7, comparou a ação antiviral de iota-carragenina e xilitol contra SARS-CoV-2. Eles descobriram que iota-carragenina em concentrações tão baixas quanto 6 µg/mL e o xilitol em uma concentração de 5% m/V – facilmente incorporadas em sprays intranasais – demonstram inibir a infecção por SARS-CoV-2 em culturas de células Vero. 6,7
Outro modelo de estudo, esse com animais, conduzido por Xu e colaboradores8, demonstrou que o xilitol na dieta teve atividade antiviral contra o vírus sincicial respiratório humano (VSRh). Os camundongos receberam xilitol via oral, por 14 dias, antes do desafio do vírus e três dias após o desafio. Os resultados indicaram uma redução de vírus encontrados nos pulmões dos animais que receberam xilitol por via oral, o que inibiu e diminuiu a gravidade da infecção. Também foi descoberto que menos Linfócitos CD3 + e CD3 + CD8 + foram ativados nos camundongos que receberam xilitol na dieta, o que indicou uma redução na resposta associada à inflamação e à infecção por VSRh. 6,8
Os autores da revisão concluíram que a terapia intranasal tem potencial para agilizar a recuperação de pacientes com Covid-19 em quadros leves e moderados, reduzir a transmissão da infecção de pessoa para pessoa e, consequentemente, auxiliar na prevenção da infecção dos profissionais de saúde por meio de exposição em procedimentos e exposição pré-operatória, além da possibilidade de ser utilizado como profilaxia pós-exposição. 6
“A possibilidade de utilizar agentes com propriedades antivirais como o xilitol para diminuir a transmissão do vírus e limitar as complicações mais graves de doenças infecciosas é animadora. A concentração sinalizada nos estudos pode ser facilmente encontrada em sprays nasais já disponíveis no mercado. O excelente perfil de segurança e a atividade única para reduzir as cargas virais, torna o xilitol uma possível alternativa dentro das terapias antivirais. A prática clínica ainda precisa ser estudada, visando a eficácia e segurança dos tratamentos, mas a terapia nasal se mostra promissora”, pondera a médica.
Mecanismos de ação do xilitol9,10
O sistema imunológico tem como uma das suas principais funções manter a homeostase e prevenir ou eliminar infecções. As defesas do organismo contra bactérias e vírus atuam de duas formas: sob imunidade inata, que já nasce com o indivíduo e fornece proteção imediata contra invasão microbiana, e a imunidade adaptativa, aquela que fornece uma defesa mais tardia e adquirida ao longo da vida, sendo mais especifica contra infecções.9,10
A imunidade inata do nariz e dos seios paranasais ocorre por meio do epitélio mucoso e glandular, que secreta uma grande variedade de moléculas de defesa, capazes de matar ou neutralizar microrganismos. O xilitol tem um papel importante neste processo imunológico, uma vez que potencializa a produção de óxido nítrico (NO), substância que faz parte da primeira linha de defesa do corpo contra microrganismos, por meio da sua ação antiviral e antibacteriana. Além disso, o xilitol também promove o aumento do batimento ciliar da mucosa nasal, um mecanismo de defesa respiratório que ajuda a expelir o vírus para fora do organismo. 9,10
“O mundo está passando por momentos sem precedentes com opções ainda limitadas de tratamentos disponíveis e a administração intranasal de terapias antivirais pode ser uma nova estratégia clínica no tratamento com Covid-19”, encerra.
Referências consultadas
• WHO Coronavirus (COVID-19) Dashboard. World Health Organization http://covid19.who.int/ Acesso em 06 de abril 2021
• Daly JL et al. Neuropilin-1 is a host factor for SARS-CoV-2 infection. Science 370:861-865. 2020. doi:10.1126/science.abd3072.
• Cantuti-Castelvetri, L et al. Neuropilin-1 facilitates SARS-CoV-2 cell entry and infectivity. Science 370:856-860. 2020.
• McRae M. Researchers discover a second ‘key’ that makes the new coronavirus so infectious. Science Alert, 23 de outubro de 2020 (Disponível em: http://www.sciencealert.com/a- second-key-used-by-sars-cov-2- to-enter-cells-could-explain- why-it-s-so-infectious).
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• Bansal S, Jonsson CB, Taylor SL et al. Iota-carrageenan and Xylitol inhibit SARS-CoV-2 in cell culture. bioRxiv 2020.08.19.225854; doi: http://doi.org/10.1101/2020. 08.19.225854
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• Fokkens WJ, Lund VJ et al. European Position Paper on Rhinosinusitis and Nasal polups 2020 Rhinology.2020 Suppl.29:1-464.
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