Por João Martins – Psicólogo do ISBET (Instituto Brasileiro Pró-Educação, Trabalho e Desenvolvimento) – CRP 06/123613

A saúde mental nunca esteve tão em pauta como agora. Tornou-se comum vermos a imprensa debatendo o assunto, famílias trazendo à tona ou até mesmo amigos em uma roda de conversa. O fato é: todo mundo está falando sobre. E é importante aproveitarmos esse debate para levantarmos outra questão, como fica a nossa cabeça quando estamos em busca de um emprego? 

Uma pesquisa realizada pela Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec), a pedido do laboratório da Pfizer Brasil, durante a pandemia de covid-19, mostra que 39% dos  jovens – entre 18 e 24 anos – considera que a saúde mental ficou ruim, e 11% muito ruim. Já para as pessoas de 25 a 34 anos, 32% tiveram um impacto ruim, enquanto 6% muito ruim. 

Mas além da pandemia, vivemos em uma cultura ansiosa, onde tudo é muito rápido e precisamos satisfazer nossas necessidades depressa. Os jovens, em particular, vivenciam essa agilidade de modo mais acentuado. Um exemplo clássico é o celular, pois é muito comum em uma troca de mensagens termos uma resposta automática, ágil e quase instantânea para tudo. Dessa maneira, a ansiedade por rapidez em todos os aspectos da vida só aumenta.

Há alguns anos, não tínhamos uma sociedade assim, pois tudo era mais arcaico e, obviamente, não impactava tanto a nossa saúde mental como atualmente. Segundo dados da Associação Brasileira de Psiquiatria, 12% da população brasileira, em 2010, precisou de algum atendimento em saúde mental, como nos mostra reportagem da Agência Brasil

Para mais, estamos em um país onde a maior parte das pessoas não consegue garantir as suas necessidades básicas com plenitude. Precisamos certificar que tenhamos alimentos, itens de higiene, escola para os filhos e pagamento de contas, pontos que vão desencadeando uma ansiedade cada vez maior. E o desemprego está alinhado a isto, pois a pessoa precisa satisfazer-se, mas não consegue, e isso vai se agravando. 

Assim, como o mercado de trabalho faz com que a ansiedade se intensifique, recebo muitos casos de pessoas que foram desligadas do emprego e sofrem com isso, além da angústia em começar em um lugar novo. Quando eu faço um paralelo com a velocidade da nossa ansiedade e o tempo necessário para conseguir um emprego novo, ela é muito mais rápida.

Nos últimos dois anos, com a pandemia, os preços dos produtos básicos subiram. Além disso, ainda estamos vivenciando um mercado de trabalho muito complicado, diversas empresas fecharam, pessoas perderam o trabalho e ainda existe o isolamento social. Por mais que estejamos voltando ao “normal”, tem sido mais difícil conseguir um emprego, e com base nisso tudo a ansiedade das pessoas vai a mil. 

Tenho vivenciado muitos jovens extremamente ansiosos e procurando vagas de trabalho. Infelizmente, a quantidade de postos é muito menor do que a quantidade de pessoas à procura. Sendo assim, todo processo na busca por um emprego gera angústias, seja uma simples olhada nos classificados até mesmo a espera de resposta de um processo seletivo em andamento. Já tive casos em que o simples fato do entrevistador olhar diferente para o entrevistado tornou-se um fator que gera ansiedade para ele. 

Eu sempre gosto de trabalhar uma forma de amenizar esse problema, seja com jovens ou adultos. Um ponto importante é refletir sobre a questão de que conseguir um primeiro trabalho ou trocar de posto não é um processo rápido, deve haver calma e entendimento de que o processo seletivo não está mais no seu controle. Outra orientação é o esporte, que ajuda muito a amenizar a ansiedade. 

Além disso, outra dica que eu dou é se organizar financeiramente. Apesar de não termos essa cultura, é preciso saber os custos de necessidade básica, o quanto se gasta com alimentação, higiene pessoal, passeios e contas fixas. É necessário um planejamento para ter uma previsão do quanto eu posso gastar e quanto tempo eu posso ficar sem um trabalho. 

Com isso, conseguimos controlar um pouco a ansiedade. Se você fez uma planilha e viu que é possível se manter por dois meses, não significa que você pode ficar de férias durante esse período. É importante considerar que esse tempo você estará confortável, mas não em uma zona de conforto, use-o para procurar um trabalho. Isso te ajudará a controlar a ansiedade. 

Todo mundo deveria ter acesso à terapia, porque lá trabalhamos com dois mundos: o externo e o interno. O externo é tudo o que acontece ao nosso redor, o interno são as nossas emoções. E um fator que gera ansiedade e é muito comum são os nossos pensamentos. Quando nós pensamos, estamos conversando com nós mesmos e nossos pensamentos são fatores que influenciam diretamente a nossa ansiedade. Trabalhar a ansiedade envolve lidar com esses pensamentos. E com terapia conseguimos remodelá-los e reconstruí-los.