Introduzidos em 2022 no Brasil, sistemas robóticos para cirurgias cerebrais e de coluna tornam esses procedimentos mais seguros e precisos, além de reduzir os dias de internação na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), o tempo de recuperação, o risco de complicações e as possíveis sequelas no paciente.

A neurocirurgia e a cirurgia de coluna atingiram um novo patamar de precisão e segurança com a introdução da robótica. Estudos.1, 2 revelam que os sistemas robóticos nesses procedimentos reduzem o tempo de recuperação, o risco de infecções, a dor e a perda de sangue do paciente. Ademais, a colocação de parafusos pediculares assistida por robô apresenta maior precisão, diminui o tempo de exposição do paciente à radiação e provoca menos complicações. No Brasil, o uso de dispositivos robóticos nessas especialidades teve início em 2022 e o país recentemente alcançou a marca de cem procedimentos, realizados no Distrito Federal e nos estados do Rio Grande do Sul, de Minas Gerais, Santa Catarina, Pernambuco e São Paulo.

A tecnologia utilizada em todas essas cirurgias foi o braço robótico Cirq, da Brainlab, empresa alemã especialista em cirurgia assistida por computador. O equipamento, que pode ser usado para cirurgias de coluna e crânio, foi o primeiro do gênero aprovado para uso pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e funciona em conjunto com o sistema de navegação cirúrgica Curve, do mesmo fabricante. 

Duas instituições foram pioneiras na adoção da tecnologia a partir de agosto de 2022. No Rio Grande do Sul, a equipe dos neurocirurgiões Arthur Pereira Filho e Nelson Pereira Filho, no Hospital Moinhos de Vento, realizou a primeira cirurgia de coluna com o auxílio de um dispositivo robótico da América Latina. Já no Distrito Federal, o ortopedista Luciano Ferrer chefiou a equipe formada pelos cirurgiões Luciana Feitosa Ferrer e Rodrigo de Souza Lima, que realizou, no Hospital Santa Lúcia, a primeira cirurgia de coluna minimamente invasiva robótica com o suporte adicional de um dispositivo de imagens transoperatórias. Em ambos os casos, mas com diferentes técnicas, foi realizada uma artrodese da coluna lombar, que consiste no implante de parafusos para estabilizar duas ou mais vértebras instáveis da coluna. A primeira cirurgia cerebral robótica foi realizada pouco tempo depois, também pelos cirurgiões Arthur e Nelson Pereira Filho, no Moinhos de Vento.

“Entre as vantagens da cirurgia robótica estão o menor tempo de cirurgia, a maior precisão na colocação dos implantes e a realização de um procedimento menos invasivo no paciente”, pondera o médico Arthur Pereira Filho. Ele destaca ainda o sistema de navegação cirúrgica, que permite o planejamento pré-operatório do procedimento – incluindo as incisões necessárias e as trajetórias dos implantes. O braço robótico garante a execução milimétrica das trajetórias previamente planejadas. “Antes da operação começar, é possível definir com exatidão as dimensões e o posicionamento dos parafusos que serão implantados”, explica o especialista.

“Em um contexto geral, a cirurgia robótica é mais barata do que a convencional, porque reduz o tempo de internação e diminui em 70% a 80% o risco de recidiva e complicações, que obrigam o paciente a ser submetido a uma nova operação”, pondera o ortopedista Luciano Ferrer, de Brasília. Em seis meses, o Hospital Santa Lúcia tornou-se o maior centro de cirurgias robóticas de coluna do Brasil, tendo realizado  80 procedimentos do gênero feitos no País.

Treinamento

Para disseminar a nova tecnologia e assegurar a adequada educação e treinamento dos cirurgiões, a Brainlab, com o apoio desses hospitais e equipes, vem promovendo cirurgias e treinamentos de especialistas brasileiros e estrangeiros, em diferentes cidades do país. 

Em 2023, um grupo de cirurgiões chilenos participou de uma capacitação. Meses depois, um grupo de 25 cirurgiões participou do primeiro programa de certificação em cirurgia robótica de coluna já realizado no Brasil. “Reunimos neurocirurgiões e ortopedistas de renome, que puderam treinar a cirurgia robótica em cadáveres, seguindo um programa cuidadosamente elaborado por grandes nomes da cirurgia de coluna do país, tendo assim uma experiência prática do uso do equipamento”, afirmou Marcel Silva, diretor geral da Brainlab no Brasil. 

Cirq e Curve

Em todo o mundo, a navegação assistida por computador e os sistemas de orientação robótica são cada vez mais utilizados em cirurgias da coluna. A cirurgia navegada é um procedimento baseado em tecnologia, que permite a reconstrução tridimensional da coluna. No navegador Curve são inseridas imagens de tomografia computadorizada do paciente. Após processar as imagens, o equipamento indica na tela do computador a posição exata para o implante dos parafusos. Em tempo real, o cirurgião acompanha esse processo e realiza o procedimento.

Inspirado na biomecânica do braço humano, o braço robótico Cirq atua como um assistente, podendo ser posicionado de forma flexível por meio de sete articulações ou “graus de liberdade”. Com apenas 11 quilos, funciona fixado à mesa cirúrgica. Após uma rápida configuração, o Cirq recebe os dados do navegador cirúrgico e localiza automaticamente a posição planejada.  Assim, alinha a trajetória e guia o cirurgião para fazer a incisão, perfurar o osso e implantar o parafuso no ponto calculado com uma precisão milimétrica.

Um dos diferenciais do equipamento é que ele é compatível com implantes de todas as marcas, nacionais e multinacionais. “Essa é uma questão importante porque dá aos médicos e hospitais a liberdade de escolha, já que os materiais cirúrgicos correspondem a 60% dos custos da cirurgia.”, ressalta Marcel Silva.

Vários estudos já comprovaram a eficácia do sistema robótico da Brainlab. Médicos da Universidade de Marburg, na Alemanha3, elaboraram uma pesquisa sobre os resultados de 13 cirurgias para implante de 70 parafusos com o braço robótico Cirq em 12 pacientes, com idade média de 67,4 anos, que tinham enfermidades diversas – espondilodiscite, metástases, fratura osteoporótica e estenose do canal vertebral. O tempo médio de implante de cada parafuso variou entre 6 a 8 minutos. Para os autores, não houve nenhum déficit perioperatório – período compreendido entre a decisão de fazer a cirurgia até a alta hospitalar do paciente3

Referências

1.          QiZhang et al. Robotic navigation during spine surgery: an update of literature. Expert Review of Medical Devices.  Volume 20, Issue 6, 2023.

2.          Tomoyuki Asada et al. Robot-navigated pedicle screw insertion can reduce intraoperative blood loss and length of hospital stay: analysis of 1,633 patients utilizing propensity score matching. The Spine Journal. Volume 24, Issue 1, 2024. 

3.          Mirza Pojskić et al. Initial Intraoperative Experience with Robot-Assisted Pedicle Screw Placement with Cirq Robotic Alignment.  Journal of Clinical Medicine, 10(24): 5725, 2021.