Reflexão sobre o combate à sorofobia dentro das empresas é levantado pelas especialistas em diversidade e inclusão Renata Torres e Kaká Rodrigues

O último mês do ano é voltado também à conscientização sobre o HIV e a AIDS. A campanha “Dezembro Vermelho” visa informar a população sobre os meios de prevenção, diagnóstico e tratamento da infecção pelo vírus, que afeta cerca de 1 milhão de pessoas no Brasil, segundo o Ministério da Saúde. As últimas décadas registraram avanços significativos no tratamento da doença, fazendo com que o país diminuísse em 25,5% o coeficiente de mortalidade por AIDS nos últimos 10 anos. No entanto, para além da saúde física, é preciso cuidar da saúde mental e social das pessoas que vivem com HIV, que enfrentam discriminação no ambiente de trabalho.

O preconceito contra profissionais soropositivos é uma forma de sorofobia, que é o medo ou aversão a pessoas infectadas pelo HIV, conforme explica Renata Torres, co-founder da consultoria Div.A Diversidade Agora! e especialista em diversidade e inclusão. “Esse preconceito pode se manifestar de várias maneiras, como exclusão, isolamento, assédio moral, demissão injusta, recusa de contratação ou promoção, violação de direitos trabalhistas e violência verbal ou física. Essas atitudes podem gerar sofrimento psicológico, baixa autoestima, depressão, ansiedade e até atitudes extremas de mutilação ou tentativas de tirar a própria vida nas pessoas que convivem com o HIV”, relata.

A discriminação no trabalho impacta diretamente na vida profissional das pessoas soropositivas, que passam a ter dificuldade em encontrar ou manter um emprego, de se qualificar ou se atualizar, de ter uma renda digna e de realizar seus projetos de vida. “Além disso, o preconceito pode prejudicar o próprio tratamento da infecção, pois, muitas vezes leva as pessoas a abandonarem ou esconderem sua condição sorológica, a não aderirem à medicação ou a não buscarem apoio médico e psicossocial”, complementa a especialista em inclusão.

Para Kaká Rodrigues, também co-founder da consultoria Div.A Diversidade Agora! e especialista em diversidade e inclusão, as organizações têm um papel ativo de extrema importância nessa sensibilização sobre a doença. “É fundamental que as empresas busquem programas e ações de conscientização das pessoas colaboradoras e se atualizem sobre o HIV e a AIDS, combatendo os mitos e os estigmas que cercam a infecção”, explica.

Ela levanta alguns pontos importantes que podem ser ressaltados no dia a dia do ambiente de trabalho: “é importante reforçar que o HIV não se transmite pelo contato social ou profissional, como aperto de mão, abraço, beijo, compartilhamento de objetos ou uso de banheiro. As pessoas colaboradoras precisam saber que quem convive com HIV pode trabalhar normalmente, sem oferecer risco ou prejuízo para si mesma ou para os outros. Além disso, as pessoas que convivem com esse vírus têm direito à confidencialidade sobre sua condição sorológica e à igualdade de oportunidades e tratamento no trabalho”, complementa.

As especialistas da Div.A ressaltam ainda que o respeito e a solidariedade são fundamentais para garantir a dignidade e a qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV. A campanha “Dezembro Vermelho” surge como uma oportunidade para promover a educação em saúde, a prevenção combinada, o diagnóstico precoce, o tratamento adequado e a inclusão social das pessoas soropositivas.

“A campanha é uma oportunidade para lembrar que o HIV não tem cara, não tem classe, não tem cor, não tem gênero, não tem idade” comenta Renata, ao que Kaká completa dizendo que “o ‘Dezembro Vermelho’ surge como uma oportunidade para lembrar que somos todos humanos e merecemos respeito”.