Vivemos, hoje, uma das maiores crises da saúde mundial de todos os tempos. Milhares de mortes a cada dia, colapso de sistemas de saúde, falta de equipamentos e a triste situação de hospitais que precisam decidir entre a vida das pessoas, sem poder atender todos. Dentro deste cenário, é comum nos questionarmos sobre o que poderíamos ter feito para evitar que chegássemos a este ponto; e, agora que chegamos, como podemos desafogar hospitais e evitar que eles se tornem polos de proliferação de Covid-19?

Identificar a maioria dos casos de pessoas que contraíram a doença, inclusive os assintomáticos, que poderiam seguir espalhando o vírus sem nem saber, é um bom exemplo do que acontece na Alemanha. Mas sabemos que os testes são caros e que a realidade da maioria dos países é bem diferente, além de não ser sustentável testar pessoas deliberadamente. O fato é que estamos em meio a algo que está sendo estudado enquanto acontece, mas podemos tirar algumas lições e correr contra o tempo na luta para o enfrentamento da doença. Um ponto que vem chamando bastante atenção do Setor Saúde brasileiro como uma boa medida emergencial foi a liberação das teleconsultas por parte do Conselho Federal de Medicina (CFM), que deve seguir enquanto durar a pandemia. Mas será que se o sistema já estivesse liberado no país, aliado a um cuidado coordenado, não teríamos resultados melhores no tratamento de pacientes?

Quando falo de teleconsulta, acho importante pontuar que simples mensagens pelo WhatsApp com um médico dedicado ou uma enfermeira que conheça seu histórico podem ser cruciais no diagnóstico rápido e nas orientações precoces ao paciente. E, dentro da Atenção Primária à Saúde, podemos encontrar um panorama favorável para a atuação do médico da família como agente essencial na prevenção e na prestação de cuidado coordenado. A evolução de aplicativos de mensagens, que já são amplamente utilizados por médicos de diversas áreas, para plataformas desenvolvidas por diversas empresas especificamente para atendimentos on-line, é um passo inevitável dentro da Medicina, e espero que permanente, pelo bem da saúde brasileira e pelo desenvolvimento do setor em relação à qualidade do tratamento.

Dentro da Amparo Saúde, por exemplo, já temos a cultura de manter contato com os pacientes por WhatsApp desde a primeira consulta, para que possam saber de resultados de exames, tirar dúvidas e informar sobre qualquer mal-estar. Evoluímos, no último mês, para um serviço 24 horas, e, após a decisão do CFM, implementamos rapidamente as teleconsultas até mesmo nos agendamentos de rotina, evitando o deslocamento desnecessário e, ainda assim, mantendo um cuidado próximo e preventivo.

É notável a necessidade de estudos aprofundados sobre a implementação da telemedicina, mas acredito que estamos vivendo um momento que será um marco na evolução de sistemas de saúde por todo o mundo. Possivelmente, teremos dificuldades ao mensurar o quanto o teleatendimento pode reduzir o espalhamento do vírus, mas diante do atual panorama, precisamos ter atitudes ágeis e certeiras, visando, exclusivamente, ao tratamento do paciente da melhor maneira possível. Dentro da Atenção Primária à Saúde, é sabido que o médico da família pode resolver até 85% dos casos em consultório, o que pode facilmente ser reproduzido pelo atendimento a distância, caso o paciente tenha um médico dedicado com acesso a um sistema de gestão de saúde com foco em dados e análises preditivas.

Não somente para evitar a proliferação do vírus no país, a telemedicina ajuda pacientes em dúvidas pontuais, otimiza seu tempo e pode prestar um cuidado muito mais assertivo no dia a dia das clínicas. Muitos pacientes voltam ao consultório para tirar simples dúvidas que poderiam ser sanadas com uma mensagem de texto ou uma chamada de vídeo. Sem necessidade de deslocamento, diminuímos drasticamente os contágios e também trazemos mais conforto e agilidade, além de possibilitar maior proximidade entre médico e paciente.

Gentil Jorge Alves é diretor de Relações com o Mercado da Amparo Saúde. Pediatra formado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), possui MBA Executivo pelo Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (IBMEC). Em sua passagem pelo Hospital Sírio Libanês, desenvolveu o Programa de Saúde Corporativa, definindo o modelo de Atenção Primária na instituição.