Especialistas alertam para os cuidados com a saúde mental em tempos de pandemia

Associação Brasileira de Psiquiatria também reforça a preocupação com a crise na oferta de medicamentos essenciais para o tratamento de doenças mentais, o que pode ocasionar aumento de suicídios

Devido às medidas adotadas para o controle da Covid-19 em território nacional, que levaram a população ao isolamento em suas casas, a preocupação com a saúde mental passou a tomar proporções ainda maiores. Os impactos da quarentena e do isolamento físico no psiquismo do indivíduo podem ter sérias consequências em curto, médio e longo prazos. 

A advertência é da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), que tem atuado, nas últimas semanas, para informar constantemente toda a população acerca de estratégias que podem ser adotadas visando preservar a saúde mental durante a crise sanitária. A adoção de medidas simples pode evitar o agravamento de transtornos psiquiátricos, bem como o desenvolvimento de doenças mentais tendo o panorama atual como gatilho.

Precisamos ter atenção redobrada com os pacientes psiquiátricos, visto que os que estão em tratamento podem ter seus quadros agravados e os pacientes em remissão podem ter recaídas e recorrências, além da real possibilidade de que o momento de isolamento social desencadeie a doença em quem nunca manifestou sintoma”, ressalta, em nota, o presidente da ABP, Antônio Geraldo da Silva.

De acordo com ele, além desse momento de crise epidêmica, a saúde mental da população brasileira também está em risco devido à crise na disponibilização de medicamentos importantes para o tratamento de doenças mentais, como carbonato de lítio, pamoato de imipramina, lisdexanfetamina, dimesilato de lisdexanfetamina, pimozida, penfluridol, palmitato de pipotiazina e dissulfiram. 

“Todos esses medicamentos não possuem patentes e poderiam ser produzidos pelos laboratórios do governo federal. E, levando em conta que a liberação da Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] de prescrição de medicamentos é de seis meses (o que possibilita que pacientes possam tomar doses maiores do que o necessário), temos configurada uma situação perigosa, que pode levar ao aumento de casos de suicídio no país”, adverte o especialista.

Outra preocupação da ABP diz respeito à continuação dos tratamentos psiquiátricos. “Também orientamos que as pessoas não interrompam os seus tratamentos sem orientação médica. Aqueles que estão em isolamento social devem respeitar os seus horários de sono, de alimentação, tentar organizar uma rotina saudável, mesmo em casa, para evitar que a quebra de rotina, além da tensão do momento, sejam gatilhos para transtornos mentais.”

CUIDADOS COM OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE
Além das observações gerais, profissionais de saúde encontram-se sob grande pressão física e psíquica neste momento de enfrentamento à epidemia. A ABP também defende que as autoridades considerem programas específicos para o atendimento em saúde mental daqueles que se encontram no front desta guerra à Covid-19.