Reflexos da pandemia na saúde mental dos profissionais

Angelina Assis* 

Recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou um alerta aos países para uma crise global de saúde mental devido à pandemia de Covid-19. “O isolamento, o medo, a incerteza, o caos econômico – todos eles causam ou podem causar sofrimento psicológico”, foi o que disse Devora Kestel, diretora do Departamento de Saúde Mental da OMS, durante o lançamento de um relatório sobre o tema, ressaltando que os governos deveriam colocar a questão “na linha de frente” de suas reações de combate à doença.

Segundo a Organização, saúde mental é um estado de bem-estar no qual o indivíduo é capaz de usar suas próprias habilidades, recuperar-se do estresse rotineiro, ser produtivo e contribuir com a sua comunidade. É um processo que exige autoconhecimento e que permite lidar com os problemas de forma mais equilibrada. Por isso, cuidar da saúde mental é um ato de amor com você e com o outro.

O tema sempre mereceu atenção por parte de líderes e empresas, mas nunca antes sua abordagem foi tão necessária quanto neste momento em que a pandemia está obrigando as pessoas a trabalharem remotamente e se isolarem do contato presencial com colegas, familiares e amigos.

Já em 2018, quando ainda não havia a ameaça do coronavírus, a OMS apontava que, até o final deste ano, a depressão seria um dos grandes motivos de afastamento do trabalho no mundo, com um impacto na economia mundial de cerca de US$ 1 trilhão por ano.

Agora, que a sociedade em geral vem sofrendo os impactos da pandemia, convivendo com a constante ameaça à vida, o isolamento social, a incerteza de futuro e o impacto na condição financeira, este cenário está se tornando ainda mais evidente. Muitas pessoas estão vivendo em um ambiente emocional de tensões, medos, angústias e aflições, em maior ou menor grau, que, no fim das contas, podem resultar em sérios transtornos psicológicos, como a ansiedade e a depressão.

Sair mentalmente ileso desta situação dependerá da capacidade que cada pessoa tem para lidar com as emoções e preservar seu bem-estar de forma geral. Algumas dicas que vou transmitir aqui ajudarão a minimizar os impactos do isolamento social. É certo que a falta de convívio com outras pessoas traz diversos riscos à saúde mental; portanto, as interações a distância são muito importantes para trocar experiências, dialogar, atualizar a mente e acalmar o coração.

Como psicóloga, recomendo que as pessoas usem e abusem dos recursos tecnológicos neste momento. As videochamadas são alternativas para amenizar a saudade durante o isolamento social. Conversar com pessoas que interpretam o desafio deste período com uma visão mais positiva e otimista também ajuda a colocar um limite em emoções negativamente exageradas.

Além disso, é preciso atenção e senso crítico aos meios de comunicação que você escolhe para se atualizar. É necessário evitar tanto o fatalismo quanto as fake news, sem contar que não é saudável para a mente permanecer o dia todo acompanhando as notícias – o melhor é estabelecer alguns períodos do seu dia para essa atualização.

Outro fator de grande relevância para a saúde mental é relacionar-se com o universo que a arte proporciona (música, literatura, dança e mesmo séries e filmes). Tudo isso, de forma adequada a esta fase de isolamento social e à sua rotina de trabalho, pode equilibrar o fluxo dos pensamentos e a expressão das emoções. Também é importante cuidar da espiritualidade; então, pratique suas crenças e seus propósitos de evolução existencial.

Diante de uma situação tão grave como esta, é necessário enfrentar as adversidades com disciplina, respeito às regras de prevenção e cuidado com as pessoas ao seu redor. Preste atenção, principalmente, a manifestações de tristeza profunda, medo generalizado, alteração no comportamento e apatia para cumprir as rotinas diárias; se perceber que isso está assumindo um caráter mais grave e prolongado, o ideal é procurar a ajuda de um profissional, sendo que, hoje, é possível fazer terapia e consultas on-line.

E lembre-se: o mais importante para sua saúde, de modo geral, é respeitar seus limites. Entenda que não é porque estamos no meio de uma pandemia que você deve abandonar seus projetos; afinal, esta é uma situação anormal, mas transitória, então pense que só precisará adiá-los por um tempo. Comprometa-se, neste período, com o seu autoconhecimento para desenvolver mais resiliência e bem-estar, inclusive para ajudar outras pessoas que precisam do seu apoio.

* Angelina Assis é psicóloga e gerente de Relacionamento do Grupo Soulan.