Luiz Aramicy Bezerra Pinto*

O ano de 2020 exigiu de nós profundas transformações, o que fez com que nos reinventássemos em uma velocidade impressionante. A maior crise sanitária do último século deixa ensinamentos que vêm sendo assimilados com rapidez e demandando de nós adequações na forma como precisamos nos planejar para o futuro.  Uma coisa é certa: o mundo jamais será o mesmo.  

Neste cenário de necessárias adequações, acredito que o grande desafio imposto às gestões de estabelecimentos de saúde, daqui em diante, será qualificar permanentemente seu quadro de recursos humanos. Profissionais aptos a realizar o trabalho com eficiência e sabedoria ajudam sobremaneira as gestões a entregarem melhores resultados operacionais e, consequentemente, melhor atendimento a pacientes e familiares.

Contar com uma equipe altamente qualificada e continuamente treinada é tão necessário à evolução dos resultados quanto empreender em tecnologia, modernização e inovação. Essa constatação é ainda mais evidente no Setor Saúde e ganha maiores proporções dentro do ambiente hospitalar, onde se concentra a maior diversidade de especialistas e o maior adensamento tecnológico para salvar vidas.

A atuação da Associação dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde do Estado do Ceará (AHECE) tem se focado na execução de uma extensa programação voltada à qualificação profissional em diferentes áreas do setor, com diversos cursos, simpósios e congressos ofertados à categoria. Nesse último ano, entretanto, a pandemia de Covid-19 fez com que todo o calendário que havíamos planejado fosse rediscutido. Nós nos reinventamos e enfrentamos a situação unidos e com bravura.

Os problemas não foram poucos, é importante lembrar. O primeiro deles foi a escassez de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e insumos, como máscaras e álcool 70%.  Em seguida, veio a suspensão dos procedimentos eletivos e a correria para que leitos de recuperação cirúrgica fossem transformados em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) – maior carência revelada pelo sistema de saúde brasileiro nesta pandemia. O problema é que não adianta abrir mais leitos se não tivermos profissionais capacitados à disposição no mercado para assumir essas vagas. Em todo o Brasil, e no Ceará em particular, não foi diferente: faltaram especialistas em Emergência e UTI para atender à crescente demanda.

A suspensão de cirurgias eletivas acarretou prejuízos financeiros para milhares de estabelecimentos, sobretudo os de pequeno e médio portes. Com grande parte da estrutura ociosa, sem poder receber pacientes, esses hospitais tiveram sérias dificuldades para manter as folhas de pagamentos de seus funcionários. Muitos chegaram perto de fechar as portas.

Foram sete meses de uma intensa luta que  uniu todo o segmento de saúde no estado do Ceará.  E os hospitais privados, mais uma vez, provaram a sua importância histórica para o sistema de saúde brasileiro. A AHECE integrou-se ao planejamento das Secretarias Municipais e Estadual de Saúde, e os hospitais privados passaram a atuar coordenados com o trabalho de vigilância permanente. Hoje, vale destacar, o setor de Saúde Suplementar responde por 40% dos atendimentos hospitalares realizados somente na região metropolitana de Fortaleza.

Graças a esse trabalho integrado e aos ensinamentos que tivemos que absorver rapidamente, o estado do Ceará tem conseguido manter um bom resultado no enfrentamento à pandemia. Hoje, o atendimento está reduzido nos apartamentos e nas UTIs, se comparado aos momentos iniciais da crise. Isso se deve, em grande parte, aos avanços nos estudos e no trato com a doença, a exemplo da revisão constante de protocolos. Na área ambulatorial, contudo, ainda é grande a circulação de pacientes, mas esta também foi uma etapa da atenção que evoluiu bastante e tem conseguido resolver grande parte das demandas sem que pacientes necessitem ser removidos para leitos intensivos.

Em todos esses anos trabalhando diretamente com a gestão hospitalar, um ensinamento que sempre se manteve atual em minhas reflexões é que o investimento em conhecimento, planejamento e qualificação é o melhor caminho para a obtenção de resultados seguros. Esta pandemia de Covid-19 apenas ratificou uma certeza, que muitas vezes negligenciamos neste nosso complexo ofício: precisamos priorizar mais nossos recursos humanos!

* Presidente da Associação dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde do Estado do Ceará (AHECE) e secretário-geral da Federação Brasileira de Hospitais (FBH), entidade que também presidiu entre os anos de 2012 e 2018.