Pra quem está à espera da imunização da Covid-19 o mais difícil é controlar a ansiedade. Vista por muitos como “uma luz no fim do túnel”, a maioria da população ainda aguarda para tirar esse “peso” das costas.

Para a psiquiatra Maria Francisca Mauro, a espera requer recuar em alguns planos imediatos, o que pode aumentar um pouco a frustração. No entanto, com todo o cenário em que vivemos, isso pode nos dar uma perspectiva.

“A ansiedade da espera precisa ser acolhida não com desespero, mas procurando forças para compreender de forma mais clara no que cada um pode contribuir e não se eximir do seu papel social”, afirma a especialista que é Mestre em Psiquiatria pelo PROPSAM/UFRJ.

A seguir, a psiquiatra esclarece as principais dúvidas sobre como fica o nosso psicológico neste momento de espera tão difícil que estamos atravessando. Confira:

 

Como lidar com a ansiedade à espera da vacina?

 

A melhor forma de aguardar ser vacinado é se cuidar para não se contaminar, ou a reinfecção, dentro dos cuidados que aprendemos. Precisa-se começar a criar o fôlego para uma corrida de longo prazo, em que precisará ser solidário e ter responsabilidade social.

Uma forma de combate à ansiedade é não ficar isento de sua própria vacinação e como está ocorrendo a distribuição das vacinas no Brasil e para o seu município. De tal forma, é possível ter mais clareza, controlar em certa medida os agentes públicos e cobrar de forma devida. No LocalizaSus, pode-se acessar dados oficiais da vacinação e conseguir ter dimensão da realidade, de acordo com a federação e município que a pessoa reside.

No caso de idosos que já tomaram a primeira dose e esperam a segunda, essa ansiedade é pior? Ela pode desencadear outros problemas?

 

Não necessariamente, o que vem acontecendo em alguma proporção é a contaminação entre a primeira e segunda dose, já que as pessoas se sentem mais confiantes e diminuem os cuidados.

Geralmente, os idosos quando recebem a primeira dose, ficam aliviados e mais confiantes que poderão conseguir sobreviver à pandemia e isto os fortalece para poderem manter os cuidados. Alguns já estão indiferentes à situação e passam a confiar numa roleta, em que se expõe sem critérios aos riscos de contaminação.

Os que estão inteirados dos fatos e coerentes quanto às informações, conseguem ter dimensão que a espera para segunda dose são necessária. A melhor forma para que nossos idosos possam enfrentar este cenário é utilizarem da sabedoria que obtiveram ao longo da vida, ou seja, que “tudo passa” e o tempo conta para que se aprenda com os erros.

O medo pela falta da segunda dose pode levar a crises de pânico, ansiedade e outros transtornos?

Somente aos que já têm alguma predisposição para adoecimento emocional. Não será este o único fator que desencadeará um transtorno mental.

Pessoas que são do grupo de risco, com comorbidades, por exemplo, mas que ainda não tomaram a vacina, como trabalhar a mente para que o medo de que algo grave aconteça não tome conta de todos os pensamentos?

 

Aos que têm estas chances mais palpáveis, como os hipertensos, diabéticos, indivíduos com obesidade, ou mesmo asma, precisam ter mais clareza dos cuidados de exposição e controlar suas comorbidades com suporte médico. De tal forma, a não ficarem clinicamente descompensados, ou mesmo, terem alguma intercorrência devido a não controlarem o que tem.

A melhor forma de controlar os pensamentos é se cuidar. Colocar isto em perspectiva para que possa se aliviar emocionalmente.

Quais os pensamentos mais comuns após tomar a segunda dose?

De sobrevivência, de vitória, alívio, gratidão, reconhecimento pela oportunidade de conseguir ter tido acesso à vacina. Muitos ficam mais fortalecidos de sentimentos positivos, alguns ficam até mais solidários e procuram colaborar efetivamente no combate a transmissão. Muitos reafirmam um compromisso com a vida e se sentem honrados por poderem ter recebido a vacina.

Entre a primeira dose e a segunda há um tempo de espera, após a segunda também há até a vacina ter 100% de efeito, como controlar a ansiedade nesses casos?

O controle da emoção e expectativa deve caminhar alinhado com o cenário externo. O melhor a ser feito é não pensar somente em si, mas tentar se colocar no próximo para refletir que sua vida pode estar mais protegida. Entretanto, não poderá se eximir de ter um compromisso de respeito e cuidado ao coletivo, mantendo, por exemplo, o uso de máscaras faciais em ambientes externos.

Qual é a sensação da imunidade completa e quais são os próximos passos, já que mesmo imune a pandemia ainda existe?

 

Estar com caderneta de vacinação carimbada para Covid-19 é um privilégio. Portanto, os imunes precisam não ter indiferença aos problemas que o Brasil está atravessando. Talvez um compromisso cívico pautado em tentar não se eximir do que pode ajudar, ou mesmo propagar de informação correta que seu alívio emocional veio da vacina e encorajar aos que estão aguardando.

Aos vacinados cabe o papel de veicularem informações baseadas na ciência e não em fake News, pois foi graças ao empenho de vários pesquisadores obstinados que se alcançou a vacina em tempo tão curto. Menos grito, mais dados e coerência.